24 novembro 2009

ENTREVISTA: Marcelo Dutra, Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Manaus




Colocar Manaus e a Amazônia no centro das discussões sobre meio ambiente e mudanças climáticas é o grande desafio da participação da Prefeitura da capital do estado do Amazonas na reunião de Copenhague. Para o atuante secretário de meio ambiente, o objetivo de colocar os governos locais no centro das atenções mundiais vem sendo perseguido em inúmeros encontros nacionais e internacionais dos quais, segundo ele, estão sendo colocados argumentos incontestáveis, entre eles, o fato de que as pessoas que residem nas cidades amazônicas precisam ter vez e voz em qualquer decisão e também que o bioma amazônico ultrapassa fronteiras e precisa ser pensado como um todo.

Acompanhe abaixo a entrevista exclusiva concedida aos jornalistas Dal Marcondes e Reinaldo Canto, especialmente para a Envolverde:

Envolverde – Quais as expectativas e objetivos que estão sendo levados para a COP-15?

Marcelo Dutra - Manaus está fazendo um trabalho além da COP-15. A cidade está assumindo a responsabilidade de ser a maior cidade do bioma Amazônia, localizado mais ao centro do bioma e, portanto, a capital natural da Amazônia.
Manaus precisa se inserir nos debates com esta bandeira que é na cidade que a vida acontece é no município que se aplicam as políticas públicas e as decisões de governo. O Protocolo de Kyoto é um instrumento de decisões de governos nacionais que muito pouco chegou ao cidadão, que não foi debatido. Foi um instrumento que ficou distante do cidadão. Porque uma decisão de governo a nível nacional, ela vira lei, ela vira regra e causa um impacto noticioso, mas ela não chega ao trabalho, ela não chega a escola, enfim não chega na vida de cada um.
O envolvimento do governo local, dos municípios, é a bandeira maior que Manaus defende.

Envolverde – Como será a participação de Manaus na Conferência em Copenhague?

Dutra - Nós temos a participação na COP-15 através de um grupo de prefeitos que a partir dessa decisão de se trabalhar no âmbito dos governos locais foram reunidos na CGLU para participar das negociações.

Envolverde - Como se chegou a essa etapa em que Manaus assumiu a posição de representar os países da América Latina e Caribe?

Dutra - Vamos começar lá do comecinho como diz o caboclo. Em março deste ano, estávamos discutindo com o ministro Luis Figueiredo, que é o ministro-chefe da delegação negociadora brasileira. E perguntamos ao ministro por que a Amazônia não havia sido incluída nas discussões do Protocolo de Kyoto. Ele nos apresentou argumentações que não nos convenceram e depois perguntamos por que a Amazônia está fora da atual proposta. Ele colocou alguns pontos, primeiro que a Amazônia não poderia estar nas negociações, porque a Amazônia seria um passivo. O argumento frágil do ministro era de que a Amazônia tem os seus milhões de toneladas de carbono já neutralizadas e se um cidadão de um país desenvolvido comprar um crédito desse carbono já neutralizado, ele estaria se creditando a lançar outra tonelada de carbono. Então, o peso da Amazônia resultaria no mesmo peso em emissões. Considero esse um argumento furado, porque a matemática ensina milhares de caminhos além do crédito. Existe o do débito, tem o do passivo mesmo.
Depois disso a discussão se aprofundou. Por exemplo, nenhuma capital nacional está localizada no bioma amazônico. A do Brasil é no Planalto Central, a da Bolívia é no Pantanal boliviano e as outras são a beira-mar. Segundo ponto, o Brasil tem 64% da Amazônia. Se o país não cuida da sua região dentro de uma proposta internacional, os outros países do bioma se sentem pequenos. É como um irmão mais velho da família, se ele não cuida da família, não serão os menores que irão cuidar, então isso significava que os outros oito países não tinham proposta para a Amazônia.
Portanto, a partir dessa realidade, fomos a CGLU (Cidades e Governos Locais Unidos) pedir o apoio para realizar uma cúpula de prefeitos do bioma Amazônia, fizemos a Cúpula de Manaus e, constatamos que a Amazônia, até então, não se conhecia. Um exemplo claro disso é o do Peru. Os peruanos nos informaram que estão liberando garimpo com mercúrio. Eles têm soberania para isso, mas a questão é que nos demos conta de que a Amazônia é uma casa só, que as fronteiras políticas não são respeitadas pelo meio ambiente e, portanto, esse mercúrio vai acabar por contaminar também os rios da Amazônia brasileira. Então, ficou clara a necessidade de nos entendermos, nos entrosar e discutir os nossos rumos. Dissemos para o representante da CGLU: “A Amazônia agora está falando por si própria está pedindo para ser consultada na decisão nacional de cada um dos nossos países”. Com esses argumentos a CGLU reivindicou um espaço para os governos locais nos debates sobre mudanças climáticas na ONU e foi concedida a uma comissão de prefeitos que participasse, não só na COP-15, a partir de agora nós temos um espaço nas negociações de todas as discussões sobre mudanças climáticas. Em princípio estão os municípios de Nantes na França, Dakar no Senegal, Durban na África do Sul, Manaus na Amazônia e serão ainda definidos os representantes da América do Norte e Ásia.

Envolverde - O trabalho das cidades dos governos locais não está em duplicidade com a força-tarefa montada pelos governadores?

Dutra - Não, porque o trabalho dos governadores se restringiu ao âmbito nacional sem ultrapassar as fronteiras. Eles trataram de uma maneira como se a Amazônia fosse nossa apenas. Essa visão que a gente precisa entender. A Amazônia nunca teve um destino e rumo, nunca foi vista como um bioma, porque nunca foi gestada como um bioma. Era sempre os 7 governadores da Amazônia ou 9 se considerarmos a Amazônia Legal, o resto da Amazônia deixa pra lá, como se conseguíssemos gerir a fumaça, a água, o fluxo gênico dentro da nossa fronteira política como se não houvesse essa extrapolação desse limite através da região toda.
As nossas nascentes estão lá fora e o poder de decisão também está lá fora. Quando o governo brasileiro quer fazer um fórum sobre a Amazônia o faz em Brasilia ou no Rio de Janeiro, não faz um fórum em Manaus. Eu nunca vi um fórum aqui, para que as pessoas que vivem aqui sejam ouvidas sobre o que pensam da Amazônia.
Então, o que os governadores fizeram tem a sua importância como governos subnacionais. Ocorre que na ONU nós estamos tentando discutir, argumentar, que você estaria numa outra esfera fictícia. O governo nacional, a União tem a soberania do país e o cidadão mora no município. O governo estadual é fictício, ele é um repassador. O movimento dos governadores também não provocou debates com os cidadãos, não provocou nenhum fórum. Dos fóruns que eu participei com o governo do estado eram com 50, 60 pessoas. Nós fizemos um com 1.200. É preciso ampliar o debate, enraizar na sociedade o que é esse debate.

Envolverde – Então diante desses argumentos, qual será o ponto principal que Manaus irá defender na COP-15?

Dutra - Antes de mais nada, nós temos que trazer para a sociedade resultados. Como é que funcionam os créditos de carbono hoje? Funcionam entre empresas, empresas que negociam que trocam entre si. Nós queremos inserir os governos locais nesse debate. Principalmente se tratando de REDD, já que as coisas serão mais voluntárias que no crédito de carbono. Precisamos que os projetos atinjam o poder público dos municípios que tenham o poder de decisão.
Um exemplo é a BR-319, o governo federal criou 7 unidades de conservação sem consulta pública a nenhum município. Consultou por meio de pesquisadores algumas comunidades, entendeu a socioeconomia de alguns povos e criou as unidades. E o governo local como é que fica? O plano diretor do município possa fazer na questão do uso do solo, o desenvolvimento planejado dessa cidade, a vocação natural desse município não é considerada, não é levada em conta.

Envolverde - O que se discute muito quando se fala da Amazônia, numa economia de baixo carbono, é a necessidade de se incluir o fator humano nessa conta, os mais de 20 milhões de pessoas que vivem na Amazônia.

Dutra - 40 milhões quando se discute o bioma todo no Brasil e nos outros países.

Envolverde - O que você imagina que a Amazônia poderá receber de recursos nos próximos dez anos, por exemplo, para que o cidadão amazônico possa ter uma qualidade de vida tão boa quanto a de um cidadão que viva em outras regiões?

Dutra - Manaus no meu entender, mesmo tendo a maior população, seria uma das menos beneficiadas com o REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação). Porque não seria justo fazer a divisão de um REDD populacionalmente. Você teria que fazer um REDD pelo significado do bioma. Eu imagino que o índice de adicionalidade responde tudo. Se nós conseguirmos auditar os resultados, nós vamos entender que não adianta só atuar dentro de unidades de conservação, pois essas unidades já possuem regras claras de uso. Nós temos que começar a trazer o projeto REDD para as comunidades ribeirinhas rurais externas às unidades de conservação, porque são as áreas que estão ameaçadas de início. Se você observar o arcabouço jurídico brasileiro, ele já trata de reserva legal, de APPs (Áreas de Proteção Permanente), encostas, vegetação especial, de mananciais e recursos hídricos. No entanto, o caboclo que mora lá no mato, que precisa sustentar sua família e que não tem acesso a tecnologia, ele desmata alguns hectares, planta a sua mandioca, o terreno fica ruim e ele não tem conhecimento e recurso para fazer a correção do solo. Aí, ele simplesmente avança mais dois ou três hectares e a reserva legal não é considerada, não é considerada a APP, não é considerada nada. Se nós desenvolvêssemos um programa, tivéssemos como acessar esse cidadão, valorar a terra dele em pé, valorar o conhecimento e a praticidade da reserva dele, da encosta e da vegetação dele, aí sim ele vai entender aquilo lá como um recurso financeiro anual...

Envolverde - O pagamento por serviços ambientais.

Dutra - ...também podemos chamar de pagamento por serviços ambientais. Ele passaria a ver aquela floresta como algo rentável e aí ele teria também acesso a tecnologia para fazer no mesmo espaço o que ele faria num espaço muito maior.

Envolverde - Uma das maneiras de levar esses recursos ao cidadão é a presença do estado. Numa cidade como Manaus é mais fácil. Como fazer para que os serviços do estado cheguem aos moradores de áreas mais distantes.

Dutra – Sem dúvida, nós precisamos aparelhar melhor a Amazônia. Eu vou citar uma cidade que se chama Japurá que fica as margens do Rio Japurá. Esse é um rio pobre em peixe, é um rio belíssimo! A cidade ainda não tem parto cesariano. Então, as mulheres ainda morrem de parto. Lá não existe um centro cirúrgico. É o menor PIB das cidades amazônicas. Vive de que: de favores do narcotráfico, de fechar os olhos ao garimpo ilegal no Rio Puruê. Vive de uma terra indígena que não tem mais indígenas na frente e cobra para que os pescadores possam ir lá para pegar peixes na área indígena... Então está tudo na ilegalidade, falta o braço do governo em Japurá. Como falta o governo nas 5.500 comunidades que o Estado do Amazonas tem. Quase o mesmo número de municípios que o Brasil tem, o Amazonas tem em comunidades rurais. Se nós construíssemos um projeto de REDD vinculado aos governos locais você já começa a aparelhar o governo local. Aquele braço que está mais perto do cidadão. O município tem um orçamento apertado, mas graças a Deus temos combatido melhor a corrupção. Se nós conseguíssemos agregar valor a esse município, mais próximo do cidadão, você conseguiria melhorar o gerenciamento desses projetos.

Envolverde - Você quer dizer que a presença do estado nessas comunidades deve começar pelo município?

Dutra – Exatamente, pelo governo local.

Envolverde - Se hoje fosse o dia seguinte a COP-15 e os seus objetivos tivessem sido alcançados, o que você teria a dizer e a comemorar?

Dutra - Eu teria a dizer que nós conseguimos estabelecer o papel dos governos locais como aplicadores da divisão desses novos mecanismos que serão colocados. O MDL só será pleno se ele também agregar o patrimônio vegetal que este planeta tem, os serviços ambientais da Amazônia. Existem estudos fantásticos sobre os índices de reciclagem natural de água que a Amazônia provoca para o Aquífero Guarani, para a Colômbia, chegamos mesmo a regular o clima na África.
O melhor resultado seria: os serviços ambientais proporcionados pela Amazônia, patrimônio dos amazonidas a serviço da humanidade agregaria valor ao caboclo. Não adianta absolutamente nada nós gerirmos tudo isso se a qualidade de vida continuar em Dubai e não em Japurá, isso se nós não dividirmos um pouco o que é viver bem.

12 novembro 2009

PRÊMIO ALLIANZ DE JORNALISMO AMBIENTAL

Ontem tive o prazer de participar da festa de entrega do Prêmio Allianz de Jornalismo. Fiz parte da banca que escolheu os 5 finalistas do Tema Especial de Sustentabilidade – Mudanças Ambientais na categoria de Mídia Impressa e On-line Nacional e Regional.

A dificuldade de selecionar apenas 5 matérias entre tantas que mereceriam um prêmio foi enorme. Tive que fazer uma primeira pré-seleção escolhendo apenas 4 de 65 matérias, a maioria de altíssima qualidade!

No final ganhou a matéria O CAOS NO CLIMA - AQUECIMENTO LETAL, de Soraya Aggege, do jornal O Globo. Um belo relato mostrando na prática as terríveis consequências resultantes do aquecimento global. Parabéns Soraya!

Abaixo está o release onde sou citado como um dos jurados e a lista completa dos finalistas ao prêmio.

Quando sair a lista de todos os vencedores irei publicar neste espaço.

Agradeço muito a Allianz pelo convite e espero estar presente em outras edições.


SAI A LISTA DE FINALISTAS
DO PRÊMIO ALLIANZ SEGUROS DE JORNALISMO

Em 27 e 28 de outubro, o Comitê de Seleção e Julgamento se reuniu na sede da Allianz Seguros para
selecionar os 30 trabalhos finalistas. Os vencedores serão revelados em 11 de novembro, após votação do júri de premiação.

O começo desta semana foi decisivo para os 847 inscritos na edição 2009 do Prêmio Allianz Seguros de Jornalismo, que tem como objetivo reconhecer matérias que abordem os temas Seguros e, nesse ano, Sustentabilidade – Mudanças Ambientais. Um júri renomado teve a difícil tarefa de eleger os cinco trabalhos finalistas de cada uma das seis subcategorias do concurso. Todas as matérias foram escolhidas por votação, sem qualquer interferência ou participação da Allianz Seguros.

A próxima etapa será feita pelo Comitê de Premiação, também formado por jornalistas e profissionais especializados nos temas do concurso, que irão analisar a qualidade técnica e jornalística das matérias e decidir os primeiros colocados do Prêmio Allianz Seguros de Jornalismo, que receberão R$ 15 mil cada. A divulgação dos vencedores acontece durante cerimônia de premiação, que será realizada em 11 de novembro, em São Paulo.

Tema Seguros

Cinco jurados especializados em Economia, Finanças e Seguros avaliaram as 311 matérias da categoria Linguagem Escrita e suas subcategorias Mídia Impressa e On-line Nacional e Regional; Mídia Impressa e On-line Especializada em Seguros; Mídia Impressa e On-line Especializada em Economia e Finanças.
Os trabalhos finalistas são:


Mídia Impressa e Online Nacional e Regional

Matéria Autor Veículo Cidade/Estado

Aos poucos, meio acadêmico vai descobrindo os resseguros

Olavo Soares


USP Online


São Paulo/SP




Brasileiro prefere correr risco


Marinella Castro
(co-autora: Sandra Kiefer) Estado de Minas


Belo Horizonte-MG


Especial Seguros

José Carlos Chaves
(co-autores: Cláudio Gradilone, Tatiany Cavalcante e Ana Borges)
Revista Quatro Rodas


São Paulo/SP
Seguro de vida é investimento


Chrystiane Silva
(co-autora: Erica Martin) Revista Você S/A

São Paulo/SP


Sua moto está segura? Marcelo Assumpção Revista Duas Rodas São Paulo/SP



Mídia Impressa e Online Especializada em Seguros

Matéria Autor Veículo
Cidade/Estado
MP Fraciona indenização por partes do corpo
Maria Luisa Barros


Revista Previdência e Seguros
Rio de Janeiro/RJ

Portadores especiais de seguros
Pedro Duarte

Revista Seguro Total

São Paulo/SP

Reciclagem de veículos beneficia mercado e sociedade

Kelly Lubiato

Revista Apólice


São Paulo/SP


Retrato de uma empresa em notas
Luciano Máximo
Revista Apólice

São Paulo/SP

Show business descobre o Brasil e o seguro
Aline Bronzati
Revista Apólice

São Paulo/SP


Mídia Impressa e Online Especializada em Economia e Finanças

Matéria Autor Veículo Cidade/Estado
A guerra dos seguros

Marcio Kroehn
(co-autor: Milton Gamez) IstoÉ Dinheiro
São Paulo/SP

Crise faz mercado mundial de seguros recuar 2%; Brasil sobe 8% Altamiro Silva Júnior
Valor Econômico
São Paulo/SP


Especial: área coberta por seguro rural cresce com subvenção Fabíola Gomes

Agência Estado - AE Agronegócios São Paulo/SP



Sob a proteção de lei mais rigorosa
Denise Bueno

Revista Valor
1000

São Paulo/SP


Temporada de duras negociações na saúde Beth Koike

Valor Econômico
São Paulo/SP



Tema Especial de Sustentabilidade – Mudanças Ambientais

Neste tema, dividido nas categorias Linguagem Escrita e Linguagem Audiovisual, subcategorias Mídia Impressa e On-line Nacional e Regional, Mídia Eletrônica – Telejornalismo e Mídia Eletrônica – Radiojornalismo, dez jurados foram responsáveis pela seleção dos 536 trabalhos inscritos. Veja o resultado abaixo:

Categoria Mudanças Ambientais - Mídia Impressa e Online Nacional e Regional

Matéria Autor Veículo Cidade/Estado
O caos no clima - Aquecimento letal

Soraya Aggege


O Globo



Rio de Janeiro



O patrimônio que resiste



Vinícius Jorge Carneiro Sassine


O Popular


Goiânia/GO



Fim da linha


Renata Viana de Carvalho
Revista Autoesporte

São Paulo/SP


O que os ventos trazem

Henriette de Salvi
(co-autor: Andreh Jonathas)
O Povo

Fortaleza/CE


A morte lenta da floresta do mar
Leonardo Cavalcanti
Correio Braziliense
Brasília/DF




Mudanças Ambientais – Telejornalismo

Matéria Autor Veículo Estado
Série Esperança - Curas que vêm da floresta




Fernanda Menegotto / repórter: Neide Duarte
(Paulo Ferreira e Wilson Araújo)
TV Globo - Bom Dia Brasil


Rio de Janeiro / RJ




Estação ecológica de Murici
Beatriz Castro

TV Globo Nordeste
Recife/PE


Tom da Caatinga


Lucia Araújo
(equipe: João Alegria e Ana Lagoa) Canal Futura

Rio de Janeiro/RJ




Os extremos do clima
Vinicius Dônola

Rede Record

Rio de Janeiro/RJ



Buriti Veredas









Jorge Luiz dos Santos/repórter: Nelson Araújo
(equipe: Sandro Queiroz; Francisco Maffezolli Jr.; Epitácio Araújo; Wilson Berzuini; Fernando Passarelli)

TV Globo - Globo Rural










São Paulo-SP












Mudanças Ambientais – Radiojornalismo

Matéria Autor Veículo Cidade/Estado
Lixo: as oportunidades da reciclagem

Juliano Dip


Rádio CBN


São Paulo




Os desafios da caatinga para resistir às mudanças climáticas no Nordeste


Joffre Bandeira de Melo


Rádio CBN Recife



Recife / PE






Todos pelo cerrado: pesquisa, tecnologia e prevenção
Akemi Nitahara


Rádio Nacional


Brasília




Sobrevoo na mata ciliar de Itaipu

Geraldo Nunes

Rádio Eldorado

São Paulo



Série Especial Tietê
Século XXI
Flávio Perez

Rádio Eldorado

São Paulo



Premiação

Os primeiros colocados de cada categoria e subcategoria de ambos os temas receberão prêmio de R$ 15 mil.

Dentre os trabalhos inscritos no tema Seguros, subcategoria Mídia Impressa Nacional e Regional, serão homenageados, com menções honrosas distintas, o jornal e a revista que mais deram espaço às matérias sobre seguros, desde que não tenham editoria ou seção destinadas exclusivamente a esse tema.

A terceira edição do Prêmio Allianz Seguros de Jornalismo contou com 847 trabalhos jornalísticos publicados entre 30 de setembro de 2008 e 4 de setembro de 2009.

Ao realizar o Prêmio, a seguradora tem por objetivos reconhecer, incentivar e valorizar os profissionais de imprensa que por meio de seus trabalhos promovem a disseminação do setor de Seguros no Brasil e esclarecem seu funcionamento à população. Assim como no ano passado, o concurso conta com o tema especial de Sustentabilidade. Nesta edição, ao invés de abarcar apenas as mudanças climáticas, a abrangência é maior. Puderam concorrer matérias que tiveram como foco os mais diferentes aspectos das Mudanças Ambientais Globais. Neste tema, a principal finalidade é premiar jornalistas que produzam reportagens que estimulem o debate e auxiliem no esclarecimento da sociedade sobre os impactos econômicos, políticos e sociais que estão acontecendo no meio ambiente, provocados pelo homem.

Conheça o júri de Seleção e Julgamento:

Tema Seguros
(por ordem alfabética)

Lázaro de Souza

Jornalista há 25 anos, Lázaro de Souza já atuou em veículos como Exame, Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Agência Dinheiro Vivo, entre outros. Formado em Comunicação Social pela Unaerp - Universidade de Ribeirão Preto, Souza trabalha hoje na elaboração de análise editorial diária de avaliação do impacto da cobertura jornalística dos principais jornais do país, na Companhia de Notícias CDN.

Leandro Brixius

Editor assistente de Economia do Jornal do Comércio, de Porto Alegre, Brixius é mestre em Ciência da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio Sinos, UNISINOS, São Leopoldo/RS, tendo se graduado em Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS. Além de experiência em mídia impressa, também teve passagens em rádio e telejornalismo.

Marlene Jaggi

Especializada em economia e negócios, trabalhou nos últimos 20 anos em publicações como O Estado de São Paulo, Gazeta Mercantil e Pequenas Empresas & Grandes Negócios. Também colaborou em veículos como Veja, Exame, Valor Econômico, entre outros. Marlene faz parte do grupo de editores que lançou o Caderno de Economia do Estadão, época em que criou a coluna “Seus Direitos”, de Defesa do Consumidor, mantida até hoje.

Vânia Absalão

Jornalista especializada em Seguros, entre outras atividades, Vânia exerceu funções como editora, assessora e diretora de órgãos como a Federação das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg), atual CNSeg; na Fundação Escola Nacional de Seguros (Funenseg); Bolsa Brasileira de Futuros, da Bolsa de Valores do Rio. Recebeu prêmio conferido pelo CVG-RJ aos jornalistas de seguros, como Destaque 2004/2005, nesta categoria.

Wagner Donizeti Roque

Atuou por 13 anos como jornalista da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, da editora Globo. Wagner é formado pela PUC – Campinas, pós-graduado em Gestão de Negócios pelo Senac e possui MBA em Economia e Finanças pela FAAP. Ganhou o Prêmio ABF Destaque Franchising 2009, com a reportagem “Aposta na Eficiência” (2008). Foi um dos vencedores do Prêmio AGF Seguros de Jornalismo, com a matéria “Escolha o melhor plano de saúde para você e seus funcionários”, em 2007.

Tema especial de Sustentabilidade – Mudanças Ambientais
(ordem alfabética)

Annete Moreira (categoria linguagem audiovisual – Rádio)

Apresentadora da rádio USP, onde atua desde 2001, Annete é formada em Jornalismo e em Letras pela Unesp – Assis. A jornalista desenvolveu grande parte de sua carreira no meio radiofônico, tendo já passado pelas rádios Cultura, Ômega FM, Alpha FM e Nova FM - de São Paulo, além do programa Grandes Mulheres, na TV Câmara-SP. Atualmente, também apresenta o Programa Vida e Saúde, do canal 48 UHF-GNT e TVA Canal de São Paulo.

Carmen Nascimento (categoria linguagem escrita)

Jornalista, desde 2004 atua em sustentabilidade, com colaborações para Instituto Ethos, Organização Nós do Centro, Instituto Arapyaú, Unicef, entre outros. É autora do livro Seu Emprego no Futuro e do blog Sustentável Mundo Novo. Foi diretora de redação do Guia do Estudante e do Almanaque Abril, da Editora Abril. Colaborou para revistas como Veja, Superinteressante, Exame, Exame PME e Valor Econômico, entre outros.

Denise Oliveira (categoria linguagem escrita)

Coordenadora de Comunicação do WWF-Brasil. É graduada em Jornalismo, com pós-graduação em Comunicação, Mobilização e Marketing Social, ambos os cursos pela Universidade de Brasília. Sua experiência profissional está relacionada às áreas de cultura, educação, desenvolvimento rural sustentável, bem como meio ambiente em instituições públicas, privadas e organizações não-governamentais.

Fernando Ramos Martins (categorias linguagem escrita e audiovisual)

Formado em Física, mestre em Tecnologia Nuclear – Reatores de Potência –, e doutor em Geofísica Espacial – Ciências Atmosféricas, Martins participa de projetos ligados ao levantamento de recursos de energias renováveis como o SWERA e o SONDA. Faz parte do Programa Antártico Brasileiro, é pesquisador do Centro Experimental ARAMAR, revisor de periódicos internacionais e nacionais e especialista em medidas de campo aplicadas ao setor energético, manipulação e tratamento de imagens de Satélites Geoestacionários e em levantamento de energia solar e eólica.

Hilton Silveira Pinto (categorias linguagem escrita e audiovisual)

Desde 1975 é professor associado do Instituto de Biologia da Unicamp - Universidade Estadual de Campinas. Formado em Agronomia pela ESALQ - USP, com MSA pela USP e doutorado em Agronomia pela UNESP, tem pós-doutorado na Universidade de Guelph, no Canadá, onde atuou também como professor convidado em Agrometeorologia. É pesquisador nível 1A do CNPq e hoje também coordena projetos de pesquisas com financiamentos nas áreas de agroclimatologia com destaque em zoneamento de riscos e de mudanças climáticas na agricultura.

Maria Manso (categoria linguagem audiovisual – TV)

Há 20 anos na televisão brasileira, Maria Manso já atuou repórter e apresentadora, ancorando transmissões ao vivo e matérias especiais para programas como Globo Repórter e Fantástico, ambos da TV Globo, onde também participou como repórter de outros telejornais. A jornalista tem passagens pelo jornalismo de emissoras como TV Cultura, SBT, Rede Manchete e TV Aratu.

Oscar Motta Mello (categoria linguagem audiovisual – Rádio e TV)

Formado pela ECA – USP, atua nas áreas de meio ambiente e sustentabilidade. Já produziu e dirigiu cerca de 50 documentários educativos e institucionais relacionados às questões ambientais. Em 1998, realizou o primeiro Festival Internacional de Filmes e Vídeos Ambientais do Brasil. Recebeu prêmios e foi jurado da Mostra Internacional de Documentários sobre Parques, realizada em Sondrio, Itália.

Reinaldo Canto (categoria linguagem escrita)

Trabalha há 29 anos em comunicação social e atua desde 2003 no Terceiro Setor. Esteve à frente da comunicação do Greenpeace no Brasil e atuou como coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente. Atualmente é diretor executivo do Instituto dos Mananciais, sendo o responsável pela revista “Parelheiros – Os Mananciais de São Paulo dentro da metrópole”. É autor do blog Canto da Sustentabilidade.

Tatiana Ferraz (categoria linguagem audiovisual – Rádio e TV)

É professora de Telejornalismo e Radiojornalismo da Faculdade Cásper Líbero e editora e apresentadora do jornal Atenção Brasil, que vai ao ar pelas rádios Cultura AM e FM. Trabalhou como repórter e apresentadora no SBT, Rádio Jovem Pan, TV Record, TV Gazeta e Rádio Eldorado. Em 2006, venceu o 6º Prêmio Ethos de Jornalismo – Responsabilidade Social (categoria mídia eletrônica – rádio).

Vanessa Kalil (categoria linguagem audiovisual –TV)

Editora-Chefe do Jornal da Noite com Boris Casoy, da TV Bandeirantes, a jornalista possui 32 anos de experiência em jornalismo. Já trabalhou nas principais emissoras nacionais, como SBT, onde foi diretora do Jornal do SBT, TV Cultura, TV Globo, como editora-chefe dos telejornais Bom Dia São Paulo, SPTV primeira edição e SPTV segunda edição, além de passagens por produtoras e rádio.

FÓRUM DA REVISTA EXAME APONTA IMPASSES E DESAFIOS DA COP-15

Por Reinaldo Canto, especial para a Envolverde




Na manhã desta quarta-feira (11/11), em São Paulo, ainda sob o forte impacto do grande blecaute que deixou a escuras a capital paulista e diversos estados brasileiros, num dos hotéis mais chiques e bonitos da cidade, foi realizado o Exame Fórum Sustentabilidade - Copenhague: Desafios e Oportunidades.

Duas rodadas distintas de debate separadas por um intervalo para café, suco e pão de queijo revelaram enormes desafios que estão no caminho de um mundo mais sustentável. A primeira parte mais pública do que privada, reuniu um representante do Governo de São Paulo, Francisco Graziano, Secretário de Meio Ambiente do Estado; uma ONG, o Instituto Ethos com seu presidente Ricardo Young, além de Eduardo Viola, professor da UNB em Brasília. Coube ao diretor de novos negócios do Grupo Votorantim, Fernando Reinach, a presença mais privada do que pública.

Talvez tenha sido por ser o representante do setor privado que Reinach fez algumas afirmações polêmicas, tais como, considerar o aço e o alumínio brasileiros como “produtos verdes”, graças ao uso de energias limpas na sua fabricação e, sem levar em conta a extração intensiva dessas matérias-primas e o enorme gasto com água, energia e outros insumos em suas fabricações, não tão “verdes”.

Ricardo Young se mostrou um realista sem pessimismo ao, de certa maneira, livrar Copenhague de ser taxada como um fracasso anunciado. Para o presidente do Ethos, Copenhague mais que resultados têm e terá um valor simbólico nas discussões que ali serão travadas, “vive-se um momento extraordinário de fatos bons e ruins”. Sem dúvida, até para não desanimar tantos atores envolvidos nesse trabalho, o melhor é pensar a COP-15 como um ponto de partida das novas discussões e não como chegada que tende a decepcionar. Ricardo também aproveitou para espetar o governo Lula classificando-o como o presidente que mais sorte teve na história e mais oportunidades desperdiçou ao não aproveitar a chance de assumir a liderança da agenda ambiental no mundo.

Quem mais aprofundou a discussão do ponto de vista das oportunidades foi o professor Eduardo Viola, com seu tom enfático, destacou que, a maior parte das empresas e dos governos, não consegue fazer a transição para um novo mundo. Segundo ele, é necessário passar de um mercado tradicional para outro baseado na tecnologia e no conhecimento, ou seja, temos de passar de uma sociedade industrial para uma sociedade do conhecimento que, segundo ele, será responsável por uma redução significativa nos impactos ambientais atuais. Viola destacou o atraso brasileiro na questão do transporte de cargas, majoritariamente rodoviário e precário, quando os maiores países do mundo utilizam ferrovias e hidrovias.

Sobre o tema transporte, o secretário de meio ambiente do governo Serra, Chico Graziano, destacou que pesquisas constataram que 46% dos caminhões que trafegam na Região Metropolitana de São Paulo circulam vazios, emitindo grande quantidade de gás carbônico sem cumprir a sua função de transportar carga.

Chamou a atenção o destaque que os debatedores deram aos grandes projetos de sustentabilidade que estão sendo colocados em prática pela China. Mesmo ressaltando que são conduzidos de maneira unilateral por um governo autoritário foram lembrados como entre os mais audaciosos que estão sendo colocados em prática no mundo. O professor Viola ainda lembrou que no mundo democrático, o Reino Unido e a Coréia do Sul são referências em medidas de redução das emissões dos gases de efeito estufa.

Os desafios da iniciativa privada

A segunda parte do debate intitulado: “Oportunidades de Negócio para o Brasil Sustentável” reuniu pesos pesados da iniciativa privada que procuraram ressaltar os esforços de suas empresas e setores na busca pela sustentabilidade. Marcos Bicudo, presidente da Phillips, lembrou bem que a água deverá, em pouco tempo, ser a nova preocupação das discussões globais ao lado das mudanças climáticas. O executivo da Phillips ainda reforçou que não é possível falar de desenvolvimento sustentável sem levar em conta que ao lado das questões econômicas e ambientais também deve caminhar o social, o conhecido tripple bottom line. Ele aproveitou para citar um número da Organização Mundial de Saúde 18 milhões de pessoas no Brasil não tem banheiro.

Um tema delicado colocado na mesa de empresários foi o da criação de empregos verdes. Silêncio inicial seguido de uma brincadeira de Marcos Vaz, diretor de sustentabilidade da Natura, “eu tenho um emprego verde”. Quando o presidente da Suzano, Antonio Maciel Neto e Marcos Jank, presidente da ÚNICA – a União da Indústria da Cana-de-Açucar ensaiavam afirmar que plantar árvores de reflorestamento para produção de papel e o plantio de cana para biocombustível criam empregos verdes, Bicudo da Phillips disse que o mais importante é que as empresas tenham o verde no seu DNA.

As discussões giraram, principalmente, em torno da redução dos impactos ambientais e da melhoria da produtividade dos setores empresariais. Marcos Jank citou que por problemas de gestão estão no campo só de bagaço de cana não aproveitadas duas Itaipus que poderiam gerar energia para o país. Como estava incomodado por não se falar em redução de consumo, mandei exatamente essa pergunta para a mediação e a resposta veio naquele que pode ser visto como um dos grandes desafios enfrentados pelos setores produtivos: “pensamos nisso três vezes ao dia, ainda é uma pergunta sem resposta”, disse Marcos Vaz da Natura e emendou, “crescer não é pecado, crescemos mantendo o impacto e investindo em coisas importantes”.

Como se vê antes, durante ou depois de Copenhague, os desafios ainda serão maiores que as oportunidades .

Reinaldo Canto e jornalista, palestrante e consultor, foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil e coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.

06 novembro 2009

BOLSO: ANTÍDOTO CONTRA O DESPERDÍCIO

Por Reinaldo Canto* Especial para a Envolverde

Na ausência do valor monetário residem alguns dos nossos problemas

São Paulo é a cidade que não desperta porque simplesmente nunca dorme! A maior cidade do país também é conhecida por ser uma síntese de muitas das características encontradas em pontos diversos do Brasil. Muitos eventos culturais, inúmeros congressos nacionais e internacionais e uma gastronomia variada e de alta qualidade. A metrópole também possui números superlativos dignos de nota e celebrações.

No princípio de outubro pudemos comemorar a aposentadoria do último Aterro Sanitário público da capital, o São João, cuja capacidade foi esgotada após chegar a expressiva marca de 28 milhões de toneladas de lixo. Nos seus bons tempos de juventude, nos não tão antigos anos 90, o aterro São João recebia cerca de 6 mil toneladas diárias de lixo, mas já próximo de seu merecido descanso, passou a receber “apenas” mil toneladas por dia. Bem, descanso não é bem o termo já que em sua área ocupada de aproximadamente 435 mil m² ou cerca de 60 campos de futebol, suas 28 milhões de toneladas alcançam 160 metros de altura, praticamente o mesmo que o Terraço Itália (168 metros), faz-se necessário um monitoramento constante para que essa verdadeira montanha não venha abaixo. Agora todo o lixo paulistano é “exportado” para municípios vizinhos, pois diferentemente do que muita gente pensa, o “jogar fora”, na verdade, significa “jogar dentro”, pois se não está na sua casa, esse lixo está mais perto do que se imagina, contaminando e sujando nossas águas, nosso ar e nossa vida.

Para não perder o pique nas comemorações de São Paulo e aproveitando que acabei de falar em água e do lixo que “não se joga fora”, temos outro número fantástico que vem de um dos locais mais conhecidos dos paulistanos, o Parque do Ibirapuera. Notícia publicada pelo jornal O Estado de São Paulo registra que são retiradas por semana, repito, por semana, 500 quilos de lixo apenas do lago do Ibirapuera. Segundo o jornal, já foram encontrados de sacos de seringa, bicicleta velha, sacos plásticos, garrafas pet e por aí vai.

A relação direta entre valor das coisas e o descarte do lixo

Vou revelar agora porque essas ironias foram expressas dessa maneira, por assim dizer, com certo grau de agressividade. Dia desses fui à lavanderia do meu bairro buscar minhas roupas. Como, gentilmente, as camisas e calças passadas são entregues envoltas num plástico e com um cabide para não amassá-las, fiz a seguinte colocação, seguida pela sugestão:

- Obrigado, eu dispenso os cabides e os plásticos, pois já os tenho em número suficiente. Que tal vocês me darem um desconto pelo não uso dos cabides e dos plásticos? Aliás, isso poderia ser feito com todos os seus clientes.
Resposta do atendente:

- Não vai adiantar a gente paga cerca de três centavos por cabide e não vale à pena fazer isso.
Esse diálogo me deixou estarrecido e mesmo com a resposta continuo a fazer propostas para reverter esse posicionamento tão danoso ao planeta (tal como a devolução de um certo número de cabides em troca de uma roupa lavada ou passada).

O que esse diálogo revela é que há uma relação direta entre o valor dos cabides e dos plásticos com a aposentadoria do Aterro São João e os 500 quilos de lixo do lago do Ibirapuera, em resumo: o valor de certos materiais.

Um dado interessante publicado pela revista Época São Paulo (edição de março de 2009) dá conta que São Paulo produziu em 2008, 3.437.607 toneladas de lixo domiciliar, 3% a mais do que em 2007. A informação curiosa é que a população da cidade de um ano para o outro cresceu apenas 0,6%. A simples conclusão é que estamos gerando mais lixo por pessoa a cada ano que passa.

Em uma sociedade de consumo que vem se caracterizando pelo culto ao descartável, a quantidade de lixo é proporcional a falta de consciência e ações que passam por todos os setores, sejam eles públicos, privados e até chegar ao próprio cidadão.

Se podemos registrar que no Brasil temos o mais alto nível de reciclagem de latinhas de alumínio do mundo (algo em torno de 95% ou 96%), também é fácil afirmar que existem materiais tão diversos como papel, papelão, vidro, isopor, garrafas PET, sacolas plásticas e tantos outros que são perfeitamente recicláveis. Pelo menos 30% dos lixos domiciliares são compostos de materiais recicláveis, mas apenas 1% acaba sendo recuperado pela coleta seletiva.

É muito triste imaginar que toneladas de material reciclável entopem os lixões e aterros sanitários quando poderiam voltar a ser utilizados por empresas em produção de novos produtos. Um caso exemplar é o do vidro. Um quilo de vidro é totalmente aproveitado na reciclagem num círculo virtuoso que contribui para que não sejam necessárias as extrações de matérias-primas existentes na natureza. Isso vale para todos os outros materiais que são descartados. Papéis reutilizados e reciclados evitam o corte de árvores; sacolas plásticas reutilizadas e recicladas deixam de entupir bueiros, poluir rios e mares, etc, etc ...

As razões para esse estado de coisas são inúmeras: ausência de políticas públicas efetivas de incentivo a coleta e reciclagem e de educação ambiental para a população; uma parte da iniciativa privada que não se empenha em tratar resíduos e criar ações para reaproveitamento de materiais na sua linha de produção e o cidadão que desperdiça, não reutiliza, não recicla e ainda joga lixo nas praças, ruas, rios e lagos.

Os argumentos acima são bastante defensáveis e, sem dúvida, devem ser trabalhados para que se encontrem soluções para os lixos e seus descartes, mas quero voltar aos meus cabides e a uma recente palestra que dei numa indústria química em São Paulo. Ao falar do sucesso da reciclagem das latas de alumínio e do fracasso em geral dos outros materiais, um funcionário da empresa concluiu:

- Não adianta, só quando dói no bolso o pessoal se mexe!!

Nada mais óbvio do que isso, o valor dos materiais é o fator determinante para garantir a reciclagem e até mesmo contribuir para a redução do seu uso e descarte.

Cobrar o que é de graça, aumentar o preço do que for muito barato

Se o poder público garantisse preços convidativos para os materiais hoje menos atrativos, tenho certeza que teríamos mais plásticos, papéis, vidros, isopores, entre outros, sendo recolhidos com eficiência, e, consequentemente voltariam para a cadeia produtiva sem entulhar os nossos aterros e lixões.

O incentivo à reciclagem que também possui benefícios sociais importantes, já faz parte da discussão. Foi por essa razão que na semana passada o governo federal anunciou uma série de projetos de capacitação que irão beneficiar 10.600 catadores em 18 estados do País. O convênio foi assinado durante a Reviravolta Expocatadores, evento que tem como objetivo desenvolver políticas públicas de inclusão para catadores de materiais recicláveis.
Outra medida menos discutida, mas creio que muito eficiente e de fácil aplicação, é dar valor ao que não tem.
Pensem a respeito:

Se a sacola plástica do supermercado, da drogaria ou da padaria custasse 0,30 ou 0,20 centavos, as pessoas usariam da mesma maneira que agora? Levariam em grande quantidade? Jogariam nas ruas, rios e praças, mesmo que sem uso? (Alguns estabelecimentos varejistas já começaram a adotar essa medida no Brasil enquanto em países como a Alemanha a sacola plástica é cobrada em todas as compras).

E quanto aos cabides e plásticos da lavanderia que citei acima? E outros tipos de embalagens? E as bandejas de isopor nos supermercados? Se fosse possível devolvê-las e com isso obter algum desconto?

Aliás antes da proliferação das garrafas PET, cervejas e refrigerantes eram majoritariamente vendidas em garrafas de vidro e, o “casco” como eram conhecidas, tinham valor. Quando a garrafa era devolvida vazia, o estabelecimento retornava ao consumidor um pequeno valor ou da mesma maneira quando a bebida era comprada sem a entrega de garrafas vazias, no preço da bebida estava lá embutido o valor do “casco”. Nesses casos, só quem rasgava dinheiro ou estava muito bêbado para pensar no assunto, jogava sua garrafa na rua ou no rio. Por que não voltarmos a usar as garrafas de vidro ou usar as garrafas PET da mesma maneira que se fazia antigamente?

Vivemos situações críticas em várias áreas vitais para a sobrevivência humana, a questão da geração do lixo, da contaminação das águas, o desmatamento e o aquecimento global estão entre as principais. Infelizmente, medidas isoladas sejam do poder público, sejam da iniciativa privada e até de cidadãos mais conscientes são louváveis, mas de resultado limitado.

Cobrar por todos esses materiais e embalagens dando valor ao que as pessoas hoje descartam seria uma maneira rápida de mudar a realidade tenebrosa do desperdício, do descarte inconseqüente e da falta de educação.
O melhor, é claro, seria conquistar consciências, mas é óbvio também que os resultados tem sido modestos até mesmo nos países ditos desenvolvidos e educados.

Conclusão, para que São Paulo e outras capitais e cidades brasileiras não apresentem números tão tristes, pelo menos em relação a sujeira e geração de lixo, fico com a filosófica afirmação do rapaz da empresa química:
- Só quando dói no bolso o pessoal se mexe!

Então, que assim seja!

*Jornalista, consultor e palestrante, foi diretor de comunicação do Greenpeace e coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente



(Envolverde/O autor)