25 agosto 2013

POR QUE A COPA PERDEU O APOIO DOS BRASILEIROS?

Em 2012, o evento e as empresas patrocinadoras tinham apoio da maioria da população. O que mudou?

Por Reinaldo Canto*

Para alguns, pode ter sido uma surpresa a desaprovação a empresas que estavam simplesmente patrocinando uma competição esportiva de alcance nacional, mas os novos tempos exigem também novas posturas e atenção às demandas da sociedade.
Um estudo divulgado pela empresa Nielsen mostra que os consumidores demonstram reprovação às empresas que anunciaram seus produtos e serviços durante a Copa das Confederações em junho último. A rejeição à realização da Copa do Mundo em 2014 no Brasil também atingiu níveis inéditos.
O que surpreendeu os pesquisadores foi a mudança de percepção dos consumidores. Em 2012 a Copa no Brasil era apoiada por 71% dos entrevistados; 67% também apoiavam as marcas patrocinadoras do evento. Na época apenas 3% rejeitavam as marcas que se vincularam à Copa e 33% consideravam o evento um mau negócio.
Ao final da Copa das Confederações, a mesma pesquisaconstatou que o apoio à realização da Copa caiu para 45% e o apoio às marcas patrocinadoras desabou para 32%. Ao mesmo tempo, a rejeição ao evento subiu para 22%. A pesquisa foi feita com 1.420 pessoas em São Paulo e nas seis cidades sede da Copa das Confederações.
Entre as razões para essa virada na opinião dos entrevistados estão as suspeitas de superfaturamento na construção dos estádios, a ausência de obras de infraestrutura e as manifestações de rua, que questionaram os gastos públicos para bancar a competição.
Grandes empresas e corporações privadas sempre tiveram e vão continuar a ter - imagina-se por muito tempo - influência sobre a vida das pessoas. Basta lembrar que existem conglomerados multinacionais maiores do que países (caso seus valores de mercado fossem comparados com os PIBs de algumas nações mais pobres e outras nem tão pobres assim).
Mais do que questionar esse poder, é preciso fazer com que a iniciativa privada seja capaz de assumir compromissos muito além do que faziam num passado recente, vinculado estritamente ao seu negócio. Quero dizer o seguinte: empresa que ainda olha para o seu próprio umbigo está ligada a um mundo ultrapassado. Quem pensa que pagar impostos, cumprir as leis e obedecer aos ditames da legislação trabalhista já está cumprindo de maneira satisfatória para o que se espera dela, pode começar a rever seus conceitos, pois o resultado será a perda gradativa de espaço ou até mesmo a falência.
Um mundo cada vez mais conectado e informado exige progressivamente das empresas um aumento também crescente em suas responsabilidades sociais e ambientais. Os que eram chamados de stakeholders, ou públicos de interesse como acionistas,clientes e governos, hoje podem ser estendidos a todos os setores sem distinção.
Uma sociedade mais organizada, como já está ocorrendo, irá cobrar dessas organizações uma posição muito mais proativa de participação e inserção nos grandes temas. Algumas delas já demonstram sensibilidade suficiente para cumprir um papel protagonista nesse novo cenário enquanto muitas, infelizmente, ainda resistem a compartilhar responsabilidades com governos e sociedade civil organizada.
A definitiva inserção do setor privado na busca de soluções e enfrentamento dos grandes problemas brasileiros certamente será um caminho sem volta e as possíveis resistências vão trazer, conforme revelou a pesquisa sobre a Copa do Mundo, um grande risco ao próprio mundo dos negócios.
Alcançar um mundo melhor, mais justo, equilibrado e sustentável, portanto, deve ser entendido e encarado como uma responsabilidade e dever compartilhado indistintamente por todos os setores.
*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital, da Rádio Trianon, do Portal Mercado Ético, colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.

Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/por-que-a-copa-perdeu-apoio-entre-os-brasileiros-5740.html

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11 agosto 2013

AMBIENTALISTAS CATARINENSES SÃO ATACADOS POR CAÇADOR

Casal caminhava em meio à mata de sua propriedade, quando foi ameaçado e feito refém por um homem armado

Por Reinaldo Canto**

Foi por muito pouco!! E põe pouco nisso, para que o casal de ambientalistas Wigold B. Schaffer e Miriam Prochnow, conselheiros da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), não se tornassem as mais novas vítimas a constar nas tristes estatísticas de mártires na proteção do meio ambiente.
Bastante conhecidos por seu trabalho em defesa da Mata Atlântica, certamente eles não esperavam por momentos tão dramáticos em sua própria casa. No último domingo 4, o casal caminhava tranquilamente em sua propriedade - uma área protegida - para, entre outras coisas, fotografar a fauna e a flora. Quando de repente, perceberam o movimento em uma moita, mas ao invés de uma boa surpresa como seria a presença de algum animal silvestre, detrás dela, saiu um caçador armado!
Não satisfeito em invadir uma propriedade particular e exercer uma atividade proibida por lei*, o tal troglodita passou a agredir e ameaçar de morte o casal.  Foram momentos de muita tensão. Os dois chegaram a ser mantidos como reféns por cerca de 20 minutos. O caçador a todo momento tentava tomar à força as câmeras fotográficas.
A tragédia só deve ter sido evitada, pois Miriam disse que a filha do casal, Gabriela tinha ido corrido para buscar ajuda e o assustado caçador fugiu do local.
Conforme noticiado pelo Mercado Ético, o caso foi denunciado às Polícias Civil, Militar e Ambiental e também ao Ministério Público Estadual e Federal. A Apremavi anunciou que, em conjunto com outras organizações, irá fazer uma campanha para que sejam realizadas operações para fiscalizar a caça ilegal, soltar animais aprisionados e apreender armas na região.
Wigold e Miriam estão bem e poderão continuar a desenvolver seu trabalho pacífico e em prol do meio ambiente brasileiro. Felizmente, eles não tiveram a mesma sorte que outros importantes ambientalistas como Chico Mendes, Doris Stang e o casal José Claudio e Maria do Espírito Santo, entre tantos que pagaram com a própria vida por defenderem seus ideais e de suas comunidades.
Casos como esse se repetem com grande frequência em todo o Brasil. São injustiças, agressões e assassinatos que atingem principalmente os mais pobres. Apesar de toda a consagrada impunidade que assola nosso país que este episódio sirva de lição e o responsável seja levado à Justiça.
*Lei de Crimes ambientais - 9.605/98: Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida. E a pena é detenção de seis meses a um ano, mais multa.
**Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital, da Rádio Trianon, do Portal Mercado Ético, colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.

Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/ambientalistas-catarinenses-atacados-e-ameacados-por-cacador-4368.html/view

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