05 fevereiro 2014

A LEGÍTIMA OCUPAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS

Coluna de Reinaldo Canto sobre Sustentabilidade que foi ao ar no Programa Observatório do Terceiro Setor, na Rádio Trianon - terça-feira 04/02/2014


Caro Joel, convidados e ouvintes do observatório desde o ano passado temos assistido uma interessante mudança comportamental que tem se tornado a cada dia mais clara para todos: a até que tardia reação a triste e dolorosa segregação social. 

Claro que isso vem de muito tempo e esteve representada em políticas públicas pouco includentes ou mesmo excludentes, acompanhadas de movimentos do chamado mercado que tentou até agora dar respostas aos anseios das classes mais privilegiadas. 

Que movimentos e políticas públicas? Então vamos lá: os investimentos em condomínios fechados, shopping centers, obras viárias que privilegiam o automóvel acompanhados de não investimentos em calçadas minimamente transitáveis, a ausência de investimentos em áreas de lazer, parques e praças para todos, notadamente na periferia. Tudo isso significando no fim das contas, um processo de separação entre as pessoas por classes sociais.

Uma comparação com o que tem ocorrido com os chamados rolezinhos é a situação de nossos rios que ao longo do século passado foram sendo aterrados, cobertos e canalizados como se não merecessem ser cuidados e fazer parte da nossa paisagem. Sempre em épocas de chuvas fortes as vezes vemos a reação desses rios, que teimam em dizer que ali estão, que não adianta enterra-los vivos, pois em algum momento, suas águas irão transbordar mostrando a sua dor por tantos maus-tratos. Será que os rolezinhos não representam um transbordamento social daqueles que permaneceram escondidos e distantes de maneira nada natural, mas que ao jogar suas águas fora de margens estabelecidas pelo sistema  passam a incomodar?

Mais que ser a favor ou contra os rolezinhos, esse é um fenômeno que deve levar a uma profunda reflexão de todas as barreiras artificiais que tentam nos impor.

Por residir bem próximo à Avenida Paulista e acompanhar diariamente todo o seu dinamismo, convido nossos ouvintes a fazer uma reflexão:  se caso tivéssemos mais locais democráticos onde são possíveis ver e conviver com tantas e tão diversificadas tribos e classes sociais, será que não viveríamos em uma cidade mais saudável, solidária e feliz?


Nesse caso acredito que as águas das diferenças poderiam majestosamente correr de um jeito livre sem os obstáculos do preconceito e da segregação entre as pessoas.   

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