11 fevereiro 2016

OS JORNALISTAS NA COBERTURA DA COP 21 EM PARIS


Por Reinaldo Canto*

Todos os anos em meados de dezembro realiza-se a chamada Conferência do Clima na qual os países de todo o mundo discutem os rumos e as ações para o combate às chamadas mudanças climáticas e o aquecimento global.

Esta última realizada em Paris no final do ano passado foi festejada como a que conseguiu finalmente, diga-se de passagem, fechar um acordo global que tem como objetivo principal, limitar o aumento da temperatura do planeta em 1,5ºC.

Cobrir um evento como esse não é tarefa das mais fáceis, pois além das chamadas discussões de alto nível que envolve a participação dos representantes oficiais dos países, acontecem um grande número de eventos paralelos muitos deles bastante relevantes, os chamados side events. E, são relevantes, pois mesmo não estando no “palco principal”, muitas vezes representam setores fundamentais para que um acordo climático consiga o sucesso esperado. São encontros da iniciativa privada, de cientistas e pesquisadores do tema, de organizações e fóruns do terceiro setor, que influenciam diretamente os resultados do encontro principal.

Tudo acontece simultaneamente em locais às vezes bem distantes uns dos outros (basta lembrar que a COP de Paris foi realizada no gigantesco Parque de Exposições Le Bourget, mesmo local onde acontece a famosa feira aeroespacial).

Jornalistas a beira de um ataque de nervos

Já vi muito jornalista ficar doente numa cobertura como essa, em virtude do grau de ansiedade diante de tantas coisas acontecendo simultaneamente.
Difícil dizer como resolver essa situação se o seu veículo exige notícias “quentes” com frequência e tem o objetivo de não ser “furado” pela concorrência, mas acredito que manter o foco em algum tema mais específico ou mesmo “colar” em algumas fontes próximas e confiáveis, sejam algumas das possibilidades para dar mais clareza do que cobrir.

O começo tumultuado   
  
O início da COP não poderia ter sido mais impactante já que os mais importantes líderes mundiais decidiram participar da abertura da COP. Por essa razão, a sala de imprensa que sempre é muito bem estruturada nas conferências montadas pela ONU, se transformou numa loucura, com pouco espaço para abrigar os mais de três mil jornalistas de todo o mundo. Quase todos os pontos de internet, além de mesas e cadeiras estiveram permanentemente ocupados no primeiro dia da conferência.
Dois dias depois a realidade já era outra. Felizmente ficou bem mais fácil de trabalhar com muitos locais disponíveis, mas também algo a lamentar. É que com a saída dos líderes, mais da metade dos jornalistas foi embora, numa triste revelação que, para muitos, a conferência do clima não era a razão para estarem ali e sim acompanhar os presidentes, primeiros-ministros e demais autoridades. Isso ficou bem claro quando da entrevista coletiva da presidenta Dilma Roussef, quando o tempo utilizado para as perguntas foi quase todo destinado às questões domésticas.

Nada contra aproveitar a ocasião já que normalmente Dilma não concede entrevistas no Brasil, mas relegar o tema das mudanças climáticas a algo insignificante, revelou certa falta de visão dos coleguinhas (lembrando que além do impeachment, também poderíamos falar do futuro do pré-sal, Petrobrás e a recentíssima tragédia de Mariana, que foi citada apenas de leve). Até escrevi um texto sobre isso que foi publicado no Portal Envolverde (www.envolverde.com.br).

Bem, o certo é que por mais complicado e desgastante que seja participar desses eventos, a satisfação profissional vence qualquer cansaço e possíveis frustrações.
Fecho esse meu artigo com um singelo pedido aos colegas: procurem dar uma atenção maior aos temas ligados ao meio ambiente e a sustentabilidade. Como temos visto em relação ao aquecimento global, fenômenos climáticos extremos e a crise hídrica, essas questões são fundamentais para o nosso futuro e, portanto,  representam pautas essenciais.


*O jornalista publicou matérias e análises no Portal Envolverde, no site e em edição impressa da revista Carta Capital e no Blog do Planeta, da revista Época, entre outros.  

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