20 abril 2016

Titica de galinha: o combustível improvável

Excrementos de galinhas e também de suínos e bovinos se transformam em biometano para gerar energia em Itaipu.
Por Reinaldo Canto* 
granja-haacke-macro
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Segundo o Dicionário Aurélio, a expressão titica de galinha tem provável origem africana, mas não se sabe ao certo. Já o seu significado é de fácil compreensão: simplesmente excrementos de aves. Por outro lado, a cultura popular denominou a expressão “titica de galinha na cabeça” para exprimir rejeição a alguma bobagem dita por alguém. Quem já não ouviu ou disse: O que é isso? Por acaso você tem titica de galinha na cabeça? Pois é! Portanto, a tal da titica sempre esteve associada ao que não presta em sua forma literal ou mesmo simbólica.
Mas além de porcaria ou bobagem essa titica é, há muitos anos, motivo de grande preocupação para as pequenas e médias propriedades rurais localizadas no Oeste do Paraná, estado que é o maior produtor de carne de frango do país (quase 33%) e importante produtor de ovos do Brasil (em torno de 6%). Nessa região, uma pequena parcela dessa verdadeira montanha de excrementos tradicionalmente se transforma em biofertilizante a ser usado nas lavouras. O restante sempre foi descartado e na maioria das vezes, da pior maneira possível, ou seja, despejado em rios e no solo com seu nada benéfico potencial contaminante.
Mas de lixo e problema ambiental, uma solução tem tomado forma graças a um projeto desenvolvido pela Cibiogás – Centro Internacional de Energias Renováveis–Biogás que é uma instituição científica, tecnológica e de inovação localizada no Parque Tecnológico Itaipu e tem como a sua principal financiadora, a gigante Itaipu Binacional (leia-se Usina Hidrelétrica de Itaipu). Excrementos de galinhas e também de suínos e bovinos se transformam em biogás para gerar energia e o que é mais interessante também acaba virando biometano, um combustível para veículos.Hoje, já são 43 carros à disposição da Itaipu movidos à titica de galinha.
A utilização desse material para os veículos ainda se dá numa quantidade ínfima em relação ao que é produzido diariamente nas granjas paranaenses, mas pode começar a mudar a realidade da região. O projeto já deixou a sua fase experimental e pretende ser ampliado em breve, mas no momento apenas uma granja de médio porte é a responsável por manter os carros em movimento.
RodrigoRodrigo Regis de Almeida Galvão, diretor-presidente da Cibiogás conta que o projeto começou há 10 anos e foi se aprimorando ao longo do tempo, “vamos aprendendo com os erros e melhorando o rendimento e agora estamos na fase de consolidação e acreditamos no potencial, pois é uma tecnologia barata com um bom custo-benefício para o produtor”.
Granja Haacke
Nada mais natural do que percorrer os 120 kms que separam a gigante Itaipu e a Granja Haacke localizada no município de Santa Helena num carro movido a coco de galinha. Na verdade para chegar até lá fizemos o caminho de volta percorrido pelos cilindros que desde 2013, são transportados para a estação de abastecimento localizada no interior da Usina de Itaipu. O desempenho do Siena Tetrafuel (carro movido a quatro tipos de combustíveis diferentes) é o mesmo de um veículo abastecido com os combustíveis tradicionais e, claro, sem qualquer odor.
O orgulhoso proprietário da granja, Nilson Haacke possui no local 84 mil galinhas poedeiras (as que produzem ovos) e 750 bovinos de corte.Além de fornecer o biocombustível, mantêm a energia estável e ainda produz o biofertilizante que vai servir de adubo natural para plantações e pastos. Quando perguntado se o investimento de R$ 700 mil (R$ 400 mil desse total veio da Cibiogás) valeu a pena, se o Nilson demonstra irritação, “não pode fazer só pra recuperar dinheiro, afinal que planeta nós vamos deixar para os nossos filhos?”. O certo é que mais do que o retorno financeiro é fundamental para o negócio garantir o fornecimento de energia estável, coisa que nem sempre a Copel, concessionária de energia do Paraná consegue fazer. Há três anos a granja perdeu 1.400 galinhas por uma queda de energia. Sem a refrigeração necessária, as penosas não resistiram ao calor e morreram.
Mas o orgulho mesmo é transformar essa titica em combustível. “O projeto do biometano me fez conhecido até no Paraguai”, ele conta sorridente, pois vende também no país vizinho, os agora famosos,ovos Santa Helena.
Outro problema resolvido com o tratamento dos excrementos foi o do o mau cheiro, situação comum a todas as granjas da região e uma vergonha para os proprietários na hora de receber visitas.
Fornecimento energético estável, solução para o odor ruim e até a transformação dos excrementos em lucro não seriam razões suficientes para convencer os vizinhos de se o Haacke a aderir ao projeto? Parece que, por enquanto, a resposta é não! “Os outros só querem ganhar dinheiro fácil, mas a gente precisa antes ter saúde e qualidade de vida”, responde o granjeiro.Ele acredita que é importante aumentar a escala e convencer os vizinhos a fazer o mesmo, “quanto mais gente fizer, mais viável vai ficar”. Hoje os 100 m³ produzidos por dia de efluente líquido na Granja Haacke vão para um biodigestor, que realiza a digestão anaeróbia dos resíduos, que resultam em mil m³ de biogás.O combustível é todo preparado na propriedade rural passando por filtros para ficar apto a se transformar em biometano. Depois esse gás é comprimido em cilindros e transportado para abastecimento dos veículos.
A granja também tem um sistema de stand by que garante a constância no fornecimento da energia elétrica, principalmente para garantir a refrigeração das aves, evitando quedas repentinas e a consequente morte dos animais.
MarceloMesmo com a difícil tarefa de convencer outros proprietários a entrar para o projeto, o que anima os técnicos da Cibiogás para continuar a investir na ideia é o também constante aumento no custo da energia. Marcelo Alves de Sousa, gerente de relações institucionais da Cibiogás diz que os valores da energia passaram em um ano e meio de R$ 0,19 para R$ 0,36. “Energia significa 30% de todo o custo de uma propriedade rural no Oeste paranaense”, enfatiza Marcelo. Seja para aquecimento, iluminação e transporte, Rodrigo Galvão acredita que chegou a hora de “estimular a criação de uma cadeia de fornecedores nacionais” com potencial capaz de criar um círculo virtuoso que englobe tecnologia e sustentabilidade na mesma equação.
O futuro irá dizer se o projeto poderá se expandir no Paraná e quem sabe para outras regiões do país. Afinal, algo que o agronegócio brasileiro precisa é de boas ideias, tecnologia e muita energia. No oeste do Paraná as galináceas estão prontas para ajudar nessa tarefa.
Reinaldo Canto viajou a convite da Itaipu Binacional. É jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.

O CÓDIGO FLORESTAL COMPLETA 4 ANOS


11 abril 2016

Vamos plantar árvores no Sistema Cantareira!

Meio ambiente - Extrema, MG
139
kicks
R$13.020,00
19%
Arrecadados da meta de R$65.490,00
3dias restantes
ONG Amiga
Campanha flexível
Esta campanha irá receber todas contribuições em 14/04/2016.

Recompensas


Juntos vamos recuperar dois hectares de Mata Atlântica no Sistema Cantareira para melhorar a qualidade e quantidade de água! #plantandoáguas


Há dez anos, nascia a Iniciativa Verde. Durante este período, conseguimos com a ajuda de parceiros, patrocinadores e editais: plantar mais de um milhão e duzentas mil árvores nativas, a maioria no bioma Mata Atlântica, em nove estados brasileirosAgora, queremos que você também nos ajude a construir esta históriaJuntos podemos recuperar as nossas florestas no Sistema Cantareira para que, assim, todos sejamos beneficiados com água de melhor qualidade e quantidade!

Plante conosco dois hectares de Mata Atlântica no Sistema Cantareira, o que equivale a 3.334 árvores nativas ou três campos de futebol em forma de floresta!

Área que será reflorestada com esta vaquinha:
JÁ PLANTAMOS 76 HECTARES OU 126.692 ÁRVORES NO SISTEMA CANTAREIRA E COM A SUA AJUDA VAMOS PLANTAR MAIS!
Até agora, as pessoas podiam plantar com a Iniciativa Verde, principalmente, por meio do nosso site. Hoje, decidimos reunir esforços para, por meio deste crowdfunding, expandir a nossa atuação no Sistema Cantareira. Além disso, esta é uma maneira de dar oportunidade para quem quer nos ajudar a combater a crise hídrica que atingiu o Sudeste!
Plantar árvores nativas também gera renda no campo. Abaixo, trabalhadores em área de Extrema próxima à que será recuperada com esta vaquinha:

São necessárias diversas ações para que não soframos mais com a falta de água. Uma delas é o plantio de árvores nativas nos locais que fazem parte do Sistema Cantareira.

As árvores ajudam na produção de água de várias maneiras. A primeira é colaborando com a regulação do clima do planeta. Por isso as florestas são fundamentais no combate às mudanças climáticas e na adaptação, diminuindo os efeitos negativos da mudança do clima como os eventos extremos (excesso de seca onde antes não havia este problema, por exemplo).
Outra, de efeito mais local, é contribuir para regular a vazão das águas. As florestas seguram o excesso de água das chuvas, liberando essa água aos poucos para os rios, represas enascentes (mantendo-os sempre com água, no caso da Mata Atlântica). A vegetação também contribui na manutenção da qualidade das águas, filtrando diversos sedimentos (evitando o assoreamento) e poluentes. As árvores nativas, por fim, fazem parte e protegem a biodiversidade.
Animais em áreas próximas a restauros feitos pela Iniciativa Verde:

Onde há floresta, existe água pura saindo de nascentes mesmo nas épocas mais secas do ano. 

Um clique seu, seja na cidade ou no campo, pode mudar a quantidade e qualidade de água que você precisa para viver. Nos ajude a recuperar dois hectares de florestas de Mata Atlântica em Extrema (Minas Gerais) que abastece o Sistema Cantareira (um dos maiores sistemas de abastecimento do mundo) e fornece água para cerca de oito milhões de pessoasna Região Metropolitana de São Paulo! Vamos juntos plantar o equivalente a três campos de futebol!  
Esta será a primeira vez que pessoas físicas financiarão o plantio de mudas de árvores nativas em Extrema – uma cidade já conhecida pelo trabalho de recuperação e de conservação das florestas e das águas. O Programa Conservador das Águas, criado pelo município, é mundialmente reconhecido pelo, especialmente, por remunerar os agricultores que protegem os recursos naturais.
Um exemplo de projeto nosso é a floresta plantanda em torno da represa em Porto Feliz (SP), com financiamento do Programa Carbon Free. Ela garante água para os agricultores usarem nas plantações, inclusive, no inverno, época de seca:

Faça parte desta floresta! Se você sempre quis fazer algo para combater a crise hídrica, esta é a sua chance! Vem com a gente! Veja ao lado quantas árvores quer plantar!

Vale ressaltar que este plantio será fotografado e monitorado pela Iniciativa Verde por dois anos! Aliás, você poderá acompanhá-lo pela internet por meio do nosso site. Após esse tempo, a floresta já terá força para crescer e evoluir sozinha. Mesmo assim, a Prefeitura de Extrema, parceira do projeto, também continuará cuidando dela.
Veja uma página do nosso site sobre o monitoramento de outro plantio realizado por nós:
Esta vaquinha verde faz parte da comemoração de 10 anos de Iniciativa Verde! Nestes dez anos, mais de 500 empresas contribuíram com o plantio de cerca de um milhão e duzentas mil árvores. Venha fazer parte desta história!
Como será usado o dinheiro arrecadado:

Observação: se passarmos da meta de arrecadação, plantaremos ainda mais árvores com esta vaquinha!


Participe:
Parceiros deste plantio:
Agradecimentos:
Maria Guimarães, Paulina Chamorro, Paulo Henrique Pereira (Paulinho),  Vinicius Gaburro De Zorzi.

A hora é agora! Contribua com
Vamos plantar árvores no Sistema Cantareira!

Bastidores da 21ª Conferência do CLima - COP 21: Antes, durante e depois

Mais de 195 países decidiram assinar um acordo para frear o aumento da temperatura no planeta.
Carga Horária: 2 horas

Programação

Vamos di@logar?
 
"Um gostoso bate-papo no fim do expediente"

O Instituto Filantropia promove mensalmente o Di@logando, uma palestra gratuita que traz temas envolvendo a gestão da área social, do universo corporativo e do desenvolvimento humano.
 
Na edição de março, Reinaldo Canto fala sobre o resultado da 21ª Conferência do Clima - COP 21, que foi realizada em Paris, em dezembro de 2015 e foi considerada histórica, pois pela primeira vez, mais de 195 países decidiram assinar um acordo para frear o aumento da temperatura no planeta. 
 
Mais de 3 mil jornalistas e alguns outros milhares de participantes ocuparam o centro de exposições Le Bourget durante 2 semanas. Muitas coisas aconteceram mais e menos importantes para se chegar a esse acordo:
 
  • Como foi possível chegar a esse resultado?
     
  • Quais foram os maiores destaques desse acordo?
     
  • Quais os principais personagens dessa conferência?
     
  • A participação do Brasil e dos brasileiros presentes ao encontro foi importante?
     
  • É fácil acompanhar os acontecimentos com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo?
     
  • E a cobertura da imprensa foi boa?
     
  • O que se espera que aconteça a partir de agora?
     
Aguardamos você para participar desse bate-papo sobre a COP 21. 
 
 

Programação:
 
19h - Credenciamento e café de boas vindas
19h30 - Início da Palestra:
21h30 - Perguntas e respostas sobre o tema
22h - Fim de nossas atividades
 
O evento é gratuito e aberto ao público!

04 abril 2016

Sacola plástica: as pessoas só valorizam o que custa dinheiro



Confira mais um artigo sobre a lei de sacolas plásticas de São Paulo


Sacola plástica no Japão (Foto: Wikimedia/ SA 2.0)
O aniversário de um ano da polêmica lei de cobrança das sacolinhas plásticas de supermercado em São Paulo gerou um bom debate no Blog do Planeta. Reinaldo Canto, jornalista especializado em sustentabilidade, escreveu um artigo onde diz que a teve o efeito positivo de reduzir em 70% o consumo das sacolas, sem reduzir o conforto dos consumidores. Em resposta a ele, Miguel Bahiense, presidente da Plastivida, associação de fabricantes de plásticos e embalagens, escreveu outro artigo. Bahiense argumenta que a lei não serviu para educar o consumidor. E só é benéfica para os supermercados, que economizam dinheiro. Em entrevista a ÉPOCA em 2011, Bahiense já havia desenvolvido os argumentos para dizer que os plásticos podem ser bons para o meio ambiente. Agora, Reinaldo Canto escreve mais um artigo, abaixo, sobre o tema.
SACOLAS PLÁSTICAS E A PERCEPÇÃO DE VALORES
Caro Miguel, antes de mais nada, quero parabeniza-lo ao questionar meu artigo no mais alto nível e mantê-lo no campo das ideias. Nestes tempos bicudos em que o ódio tem prevalecido sobre o debate cordial é de servir de exemplo que as pessoas se coloquem em campos opostos em determinados momentos como adversários e não inimigos.
Feita esta primeira observação passo a refletir sobre as suas considerações. De certa maneira também concordo com você que essa questão é muito mais profunda e interesses econômicos, bem como, conscientização e educação ambiental não se resolvem ou avançam com a simples cobrança das sacolinhas.
Tenho usado com frequência o argumento de que a falta da percepção de valor das coisas, sejam eles insumos naturais ou não, só servem para que os impactos ambientais se tornem ainda mais dramáticos. Veja o exemplo da água! Tão essencial, mas foi preciso uma crise hídrica de grandes proporções para despertar as pessoas para a sua importância. Em minha opinião, ela deveria custar muito mais caro já que mesmo com a escassez,  desperdícios e o mau uso ainda são frequentes.
No caso das sacolas plásticas algo semelhante acontecia ou mesmo com a cobrança ainda acontece, ou seja, muita gente simplesmente não lhes dá qualquer valor. Antes da lei era comum ver aquela profusão de sacolas sendo consumidas sem controle e bom senso. Aí reside a questão central do meu ponto de vista: a noção de valor. Se posso pegar quanto quiser, na cabeça de muitos, as sacolas representavam um acessório absolutamente sem valor, gratuito e, portanto, passível também de ser descartado a qualquer momento e em qualquer lugar.
Em defesa da cobrança digo sempre em sala de aula que ninguém joga ou deixa cair moedas no chão, pois mesmo diante de seu baixo valor de face, essas moedas tem valor. Creio que o mesmo deve valer para as sacolinhas plásticas.
Você e os leitores viram em meu artigo alguns dados sobre o problema do descarte do plástico e suas consequências terríveis para o meio ambiente e para o futuro de todos nós. Claro que ao cobrar não se está fazendo educação ambiental, mas simplesmente contribuindo para reduzir o impacto ambiental do descalabro que era o uso indiscriminado das sacolinhas.
Não sou contra as sacolas plásticas, muito pelo contrário, eu as acho ótimas e as uso quando preciso. Longe de mim apoiar o seu banimento, ela é, sem dúvida, muito útil, prática e eficiente.
Questiono à afirmação de que a população “menos favorecida economicamente”, não poderia mais acondicionar seus rejeitos em sacolas plásticas em virtude de cobranças que estão em torno de R$ 0,08 e R$ 0,10. 
Argumentação ainda mais frágil faz referência a um aumento no descarte irregular de resíduos. A Prefeitura registrou um aumento de 12% na coleta seletiva logo no primeiro mês de vigência na nova lei graças, exatamente, ao uso correto das sacolinhas. Também recentemente foi anunciada a extensão da coleta seletiva até dezembro deste ano para toda a cidade de São Paulo.
Quanto à relação entre sacolas plásticas e as doenças zika, chikungunya, etc, por não existir qualquer estudo conhecido a esse respeito (com a palavra Miguel Bahiense)  prefiro não me manifestar.  
Concordo que os supermercados e os demais comércios atingidos ou mesmo beneficiados pela lei poderiam pensar em ações inteligentes que beneficiassem os consumidores que não fizerem uso das sacolas. Talvez fosse uma forma de reduzir outra percepção de muitos de que o comércio está auferindo lucros indevidos.
Prefiro restringir minha análise aos aspectos ligados aos impactos ambientais e não entrar na seara sobre quem perde ou ganha com a lei ou a ausência dela. Nessa contenda com supermercados de um lado e fabricantes de embalagens plásticas de outro prefiro chamar os jornalistas da área econômica. 
O certo é que a sociedade não perdeu, muito pelo contrário, nada de mau aconteceu em virtude da redução desse consumo.
Concordo que a batalha é muito maior. Realmente infinitamente maior! Mas ela precisa começar a ser travada em algum campo. Impossível imaginar que tudo será resolvido como em um passe de mágica. O certo é que ao levar as sacolas retornáveis ao supermercado ao invés de comprar uma sacolinha de que não necessita, o consumidor, por bem ou por mal, estará refletindo sobre uma ação de consumo. É pouco, sim!! Mas é melhor que nada!
Numa sociedade ideal, as sacolinhas seriam gratuitas, mas as pessoas só usariam se realmente precisassem delas e não as descartariam nas vias públicas e córregos; as pessoas não dirigiriam embriagadas e também não seria necessário autuar cidadãos e empresas pelo desperdício de água. Infelizmente não vivemos nesse mundo!
Assim como em outras inúmeras conquistas da modernidade devemos buscar o equilíbrio e ter uma visão que contemple o longo prazo, a sustentabilidade do nosso consumo e, portanto, também do que esperamos para o nosso futuro. O bem comum deve prevalecer sobre um pretenso direito do consumidor.
*Reinaldo Canto é jornalista ambiental e assessor de comunicação da Iniciativa Verde
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Publicidade infantil: o começo do fim

Superior Tribunal de Justiça (STJ) toma decisão histórica e coíbe venda casada de produto dirigido às crianças
Por Reinaldo Canto

Está lá, no artigo 227 da Constituição brasileira, a defesa e a proteção dosdireitos das crianças e adolescentes. Entre seus pontos principais pontos, destaco: “livrá-las de toda forma de violência, exploração, crueldade e opressão”.
Não é de hoje que se condenam anúncios dirigidos aos menores. Sutilezas, como o apelo às fantasias e personagens conhecidos, tem sido usados em profusão para manipular as cabecinhas ainda em formação para que se tornem, antes do tempo, plenos consumidores de produtos de todos os tipos, inclusive daqueles que lhes farão mais mal do que bem.
A princípio, pareceria óbvio a adoção de medidas firmes para coibir tais abusos. Pressões de quilates variados tem dificultado, porém, a tomada de ações sérias nesse sentido.
Recentemente, uma decisão emblemática foi tomada pela 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em relação a uma campanha da empresa Pandurata, dona da marca Bauducco , intitulada “É Hora de Shrek”.
Na campanha, de 2007, as crianças aquiriam um relógio com os personagens da animação após juntar cinco embalagens de produtos da linha “Gulosos da Bauducco” e pagar mais cinco reais.
Alegando venda casada, a campanha publicitária foi questionada por meio de uma Ação Civil Pública do Ministério Público de São Paulo, demandada originalmente pelo acompanhamento do projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana.
Em 2013, a Pandurata foi alvo de uma decisão condenatória do Tribunal de Justiça de São Paulo. De acordo com a decisão, a empresa deveria pagar R$300 mil de indenização pelos danos causados à sociedade. A Pandurata, porém, não concordou com a sentença e recorreu ao STJ.
A decisão dos ministros do Superior Tribunal de Justiça não deixou dúvidas quanto à condenação dessa campanha. Relator do recurso, o ministro Humberto Martins afirmou em seu voto que: “o consumidor não pode ser obrigado a adquirir um produto que não deseja”.
Outro ministro, Herman Benjamin, foi ainda mais longe ao condenar de maneira geral a publicidade dirigida às crianças: “nenhuma empresa comercial e nem mesmo outras que não tenham interesse comercial direto, têm o direito constitucional ou legal assegurado de tolher a autoridade e bom senso dos pais. Este acórdão recoloca a autoridade nos pais”. 

Essa decisão foi uma vitória importante para o Instituto Alana. Com uma década de existência, a organização tem o combate à publicidade infantil como uma de suas principais bandeiras.
Responsável pelo projeto Criança e Consumo, Isabella Henriques afirma que trata-se de uma mudança de paradigma. “É o reconhecimento da criança como prioridade absoluta, inclusive nas relações de consumo. Esse é um grande marco para nós e traz, certamente”.
Em março, tivemos outra boa notícia para as crianças (dessa vez baseada apenas no bom senso): sem maiores polêmicas e por livre e espontânea vontade, a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (Abir) decidiu não mais dirigir a propaganda de seus produtos às crianças.
A entidade tem entre seus associados, as maiores empresas do setor de bebidas, nada menos do que a Ambev, a Coca-Cola e a Pepsi, entre outros.
Sem dúvida, uma decisão corajosa, mas também inteligente dos fabricantes de refrigerantes, pois se antecipa a futuras ações legais que coíbam esse tipo de publicidade dirigida às crianças.
obesidade infantil já é uma das doenças que mais cresce no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, uma em cada três crianças brasileiras na faixa etária entre 5 e 9 anos está acima do peso. Parte desse problema pode ser colocada na conta da ingestão indiscriminada de refrigerantes.
Seja por meio da via judicial ou por iniciativa própria, as restrições à publicidade infantil tendem a ser cada vez maiores, como já apontam exemplos vindos dos países mais desenvolvidos.
A proteção à infância saudável implica em deixar nossas crianças livres da ganância e de manipulações comerciais, entre outros abusos conhecidos.
Com o tempo e a partir de uma idade mais madura, certamente, esses jovens serão capazes de se tornar consumidores mais conscientes e responsáveis. A sociedade como um todo só tem a ganhar com isso.