24 novembro 2017

Ação empresas contra o desmatamento é fator de proteção ao lucro

Levantamento global do CDP aponta riscos aos quais grandes corporações e suas cadeias de valores estão expostas por não conduzir atividades em uma economia de baixo carbono
Sim, nós temos informação. Vasta, clara, abrangente e que dá a exata medida de para aonde caminhamos como espécie humana. Já sabemos que 15% das emissões de gás do efeito estufa vêm de desmatamento, que o cerrado brasileiro está ameaçado pela agropecuária, que as queimadas em Portugal originadas pelas fabricantes de papel e celulose podem causar desequilíbrios no mundo todo. Mas até que ponto o setor produtivo está realmente comprometido em construir uma agenda prática que reverta gradual e sustentavelmente a atividade, permanecendo lucrativa mas que possibilite a vida humana em 2050? A resposta pode ser óbvia: o ponto de inflexão está no risco ao negócio e na perda da lucratividade. E já estamos nesta etapa.
O relatório “Do risco para a receita: a oportunidade de investimento para enfrentar o desmatamento corporativo”, divulgado nesta terça-feira (21) pela plataforma de divulgação ambiental global sem fins lucrativos, CDP, aponta crescimento do prejuízo das empresas listadas em bolsa que perderam US$ 941 bilhões em volume de negócios neste ano ante perda de US$ 906 bilhões no ano passado (alta de 3,8%). Os quase US$ 1 trilhão em volumes de negócios foram perdidos por empresas de capital aberto de 2016 para 2017 que tinham suas operações vinculadas às commodities que mais alimentam o desmatamento no mundo – pecuária, soja, madeira e óleo de palma.
Neste cenário, o Brasil ganha importância negativa, pois é o segundo maior produtor de pecuária e de soja no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Caso essas empresas e seus stakeholders ainda não estejam se movimentando para modificar o caminho que fazem e a forma que atuam, esses dados desenham um futuro próximo no qual a longevidade delas fica comprometida. Em resumo, o ponto da virada chegou no Brasil e no mundo todo.
Dados do relatório mostram que a região na qual as empresas têm o maior percentual de riscos diretos nos negócios ligados às commodities é a América Latina, com 67% das empresas com amplos riscos diretos na cadeia de operações. A região é seguida pelo grupo Europa, Oriente Médio e África (57%), Ásia/Pacífico (33%) e América do Norte (26%). De acordo com os dados do CDP, as empresas dependem das florestas e reconhecem que os impactos ambientais e sociais do desmatamento ameaçam reduzir lucros e aumentar os riscos. Ao afetar as avaliações da empresa e a capacidade delas de reembolsar a dívida, esses riscos são suportados pelos investidores, ao mesmo tempo que os afasta.
CDP é uma organização internacional sem fins lucrativos, formada por grandes investidores interessados na avaliação do desempenho das empresas em função dos desafios ambientais de mudanças climáticas, recursos hídricos e florestas. Atualmente é formada por 827 investidores que administram um total de US$ 100 trilhões em ativos. A organização tem ainda em sua base de respondentes mais de 570 cidades no mundo todo reportando seus dados em 2017. A partir desses dados, são produzidos materiais que reportam regularmente a evolução no uso de recursos hídricos e ambientais pelas empresas e cidades signatárias, como este sobre desmatamento.
No relatório de hoje sobre desmatamento, 87% das empresas que responderam ao questionamento reconhecem pelo menos um risco – e 32% já experimentaram impactos – associados à produção ou ao consumo de commodities de risco florestal.
As decisões que estão sendo tomadas hoje determinarão se seremos capazes de fazer uma transição para uma economia próspera, que trabalhe para as pessoas e para o planeta a longo prazo. Acreditando na possível e urgente mudança de cenário, o CDP Latin America realiza no dia 30 de novembro, em São Paulo, o Conexão CDP, evento que vai promover um diálogo com essa ótica entre investidores, empresas, cidades e governo, oferecendo protótipos de ideias e soluções para materializar a mudança que desejamos ver no mundo.
Além disso, neste ano será apresentado um infográfico inédito – que apresenta indicadores e dados de empresas e cidades na América Latina sobre como se preparam, monitoram e gerenciam seus recursos. Por meio dessa ferramenta será possível visualizar quais são as empresas que lideram em sustentabilidade na região e que tipo de estratégias elas utilizam ou estão desenhando para embarcar no único futuro possível, o da economia de baixo carbono. (CDP/Envolverde)

23 novembro 2017

Longevidade das empresas depende da transição à economia de baixo carbono


Adaptação e tomada de decisões com foco de longo prazo vão garantir investimentos e mudança de patamar de empresas que já têm estratégia para se perpetuar

Por Juliana Lopes

O que você quer ser quando crescer? Essa pergunta feita inúmeras vezes para crianças de regiões diferentes no mundo todo deve ser adaptada aos empresários e executivos hoje, pois é urgente ter um plano cuja meta seja a longevidade. Pensar desta forma é uma espécie de garantia da existência de seu negócio dentro da nova economia e passa obrigatoriamente pelo comprometimento com a transição para a economia de baixo carbono – que pavimentará nossa existência futura à medida que dermos passos objetivos para mitigar os impactos das mudanças climáticas e do aquecimento global. É esse diferencial, olhar para o todo e não apenas para o resultado de curto prazo, a linha de corte de quem vai se perpetuar ou não.
            Uma empresa dentro da nova economia, assim como a criança que sonha ser bombeira ou astronauta, pensa nos passos que precisa dar para chegar ao seu objetivo. Ela sonha. Ela sonha, cria uma visão de futuro e age. A empresa que hoje sonha traça um caminho que possibilite ter a capacidade de regenerar a degradação que vivemos, em como se adaptar. Pensa na sua resiliência que nada mais é que manter aquela criança viva, seus objetivos no radar sem se seduzir pelos lucros do curto prazo. A empresa não ignora os fatos e dados, mas atua de forma transparente em suas operações. Esse é o comportamento que os investidores estão analisando, procurando entender por exemplo a exposição de seus portfólios de ativos e investimentos a riscos climáticos.
            A procura desses agentes financeiros que movimentam trilhões de dólares e euros em mercados diversos é por companhias com estratégias de negócios resilientes às mudanças climáticas porque esse é o fato que consideram que possibilitará a atividade futura de corporações, mercados. É como se pensassem que essas empresas precisarão se manter vivas para que recebam investimentos futuros. É um pouco óbvio, sabemos, mas tem muita instituição desatenta com uma questão tão elementar e vital. Mas as holografias são muitas no caminho, como o fato de o presidente da maior economia global realizar um grande desserviço ao mundo pensando apenas no curto prazo e ignorando o Acordo de Paris, para ficarmos apenas em um exemplo.   
            O momento agora é de ir além da eficiência durante a produção, sendo capazes de entender os impactos ao longo de todo o ciclo de vida dos produtos e serviços. Trata-se de um nível de demanda diferente em termos de performance socioambiental. Para atingi-lo, as empresas devem refletir se as suas ações estão tendo escala no setor em que atuam e na economia como um todo. Essa é a única forma de serem verdadeiramente sustentáveis. Pensar em rede. Observar e interferir positivamente na cadeia de valores.
            As empresas devem se preparar para conduzir suas estratégias por trajetórias de descarbonização, o que exigirá inovação disruptiva e mudanças nos modelos de negócios. Elas precisarão se perguntar qual a natureza da sua atividade e quais as reais necessidades sociais atendidas por seus produtos e serviços. E assim, encontrar um modelo para que operem e prosperem dentro de limites ambientais e sociais seguros.
Uma empresa da nova economia não busca apenas gerenciar seus impactos ambientais e sociais, mas também ter impactos positivos ao orientar suas estratégias para oferecer soluções para os principais desafios de nossos tempos. Mudanças climáticas, mobilidade, desmatamento e declínio de serviços ecossistêmicos, segurança alimentar são alguns deles. Endereçar esses desafios representa novas oportunidades de negócios.
            Como um exercício pedagógico de indicação de caminhos possíveis para a transição para a nova economia, o CDP desenvolve uma série de ações voltadas ao mercado financeiro, que acreditamos ser o grande catalisador da mudança necessária. As empresas devem se preparar para um escrutínio cada vez maior dos diferentes stakeholders em relação ao impacto ambiental dos negócios ao longo de toda a cadeia, notadamente a pegada de carbono, uma vez que será necessária uma redução drástica das emissões globais. Para manter o aumento da temperatura em 2°C em relação aos níveis pré-industriais, limite considerado seguro, a comunidade científica adverte que até 2050 as emissões devem ser reduzidas entre 41% e 72% em relação aos níveis de 2010. Isso resulta em um orçamento de aproximadamente 1000 giga toneladas disponíveis para serem “gastos”. Mantendo o nível atual de emissões de 49 giga toneladas ao ano, esse orçamento será gasto em 20 anos.
            É crescente o entendimento dos investidores de que as mudanças climáticas podem impactar a estabilidade financeira. À exemplo disso, o Financial Stability Board – FSB divulgou em junho deste ano um conjunto de recomendações da Task Force on Climate Financial-Related Disclosure para reporte de informações sobre os riscos de transição das mudanças climáticas nos informes financeira. Por riscos de transição entende-se que as mudanças políticas, legais, tecnológicas e de mercado devem ser extensivas para atender aos requisitos de mitigação e adaptação relacionados às mudanças climáticas. Dependendo da natureza, velocidade e foco dessas mudanças, os riscos de transição podem representar níveis variáveis de risco financeiro e de reputação para as organizações.
            A TCFD reforça que a transparência sobre riscos climáticos é crucial para uma boa governança e para a perenidade do negócio, agenda que o CDP vem trabalhando nos últimos 15 anos com as principais forças do mercado com o respaldo de uma rede de investidores e clientes internacionais. A gestão corporativa de riscos climática tem agora o potencial de se tornar uma norma para se fazer negócios, por se tratar de uma iniciativa liderada pela indústria financeira como é o caso do FSB.
            O CDP é uma organização internacional sem fins lucrativos, formada por grandes investidores interessados na avaliação do desempenho das empresas em função dos desafios ambientais de mudanças climáticas, recursos hídricos e florestas. Atualmente é formada por 827 investidores que administram um total de US$ 100 trilhões em ativos. A organização tem ainda em sua base de respondentes mais de 570 cidades no mundo todo reportando seus dados em 2017. A partir desses dados, são produzidos materiais que reportam regularmente a evolução no uso de recursos hídricos e ambientais pelas empresas e cidades signatárias, como este sobre desmatamento.    
            As decisões que estão sendo tomadas hoje determinarão se seremos capazes de fazer uma transição para uma economia próspera, que trabalhe para as pessoas e para o planeta a longo prazo. Acreditando na possível e urgente mudança de cenário, o CDP Latin America realiza no dia 30 de novembro, em São Paulo, o Conexão CDP, evento que vai promover um diálogo com essa ótica entre investidores, empresas, cidades e governo, oferecendo protótipos de ideias e soluções para materializar a mudança que desejamos ver no mundo.
            Além disso, neste ano será apresentado um infográfico inédito – que apresenta indicadores e dados de empresas e cidades na América Latina sobre como se preparam, monitoram e gerenciam seus recursos. Por meio dessa ferramenta será possível visualizar quais são as empresas que lideram em sustentabilidade na região e que tipo de estratégias elas utilizam ou estão desenhando para embarcar no único futuro possível, o da economia de baixo carbono. Contamos com o apoio de todos os setores da sociedade!


Serviço: Conexão CDP 2017
Data: 30 de novembro
Local: Teatro Vivo – Av. Dr. Chucri Zaidan, 2460 – Vila Cordeiro, em São Paulo
Horário: 8h30 – 13h30 – atividade aberta ao público geral
13h30 – 15h – atividade exclusiva para as empresas inscritas na rodada de negócios
Inscrições:  https://goo.gl/seZsjb
#ConexaoCDP #EconomiaEmTransicao


Juliana Lopes é graduada em jornalismo, com um MBA em Marketing e Mestrado em Administração pela FEI na linha de pesquisa em sustentabilidade. Como diretora do CDP Latin America, é responsável pelas atividades da organização na região. Atuando há 12 anos na área de sustentabilidade, Juliana começou sua carreira no terceiro setor, onde liderou projetos de capacitação para empoderar a sociedade civil para uma gestão mais participativa e eficiente da água. Foi editora da revista Ideia Sustentável, a primeira revista brasileira especializada em Responsabilidade Social Corporativa, onde também coordenou projetos de estudos e pesquisas, bem como de consultoria estratégica em sustentabilidade. Trabalhou em empresas multinacionais como BASF e Bridgestone-Firestone na área de comunicação corporativa. Também se dedicou a elaboração e implementação de campanhas de comunicação da sustentabilidade para clientes corporativos e organizações internacionais como WWF. Integra o Grupo de pesquisa internacional sobre Licença social para operar.

16 novembro 2017

Conferência do Clima 2017

Apesar dos pesares, energia limpa é um caminho sem volta

Crescimento da presença das eólicas no Nordeste e investimentos em renováveis no mundo são exemplos do roteiro do futuro energético

Marcos Santos / USP Imagens
Parque éolica
Em uma década, a geração eólica cresceu vertiginosos 1.772%
Motivos para otimismo faltam e muito! O planeta e sua população humana têm passado por inúmeros problemas causados ou amplificados pelas mudanças climáticas, já não bastassem os decorrentes da geopolítica suficientes para causar enormes desequilíbrios (vide os mais recentes: Yemen, Mianmar, Síria, etc, etc, etc).
Mesmo sendo difícil enxergar coisas positivas, uma que vem se destacando é o crescimento das energias limpas e renováveis no Brasil e no Mundo com grande destaque para a Geração Eólica em substituição às fontes fósseis (petróleo, carvão e gás natural).
E, isso não é conversa de ambientalista. Vamos aos fatos.
Em evento paralelo à realização da Conferência do Clima na Alemanha (COP 23), um estudo da Universidade de Tecnologia Lappeenranta (LUT), em parceria com o Grupo Energy Watch (EWG),  concluiu que uma transição global para o consumo de eletricidade 100% renovável já não é mais uma realidade de longo prazo, mas algo bem mais próximo no tempo.
Segundo esse levantamento, os investimentos que estão sendo feitos, o potencial energético e as tecnologias disponíveis serão capazes de gerar toda a energia necessária para o consumo planetário quem sabe até antes mesmo de 2050.
"Uma descarbonização total do sistema elétrico até 2050 é possível a um custo o menor do sistema do que hoje com base na tecnologia disponível. A transição energética não é mais uma questão de viabilidade técnica ou econômica, mas de vontade política ", segundo explicou Christian Breyer, principal autor do estudo, professor de Economia Solar na LUT e Presidente do Conselho Científico do EWG.
Essa transição para fontes renováveis, além de capazes de zerar as emissões de gases de efeito estufa do setor elétrico, ainda poderão criar 36 milhões de empregos até 2050, cerca de 17 milhões de empregos a mais dos que os hoje existentes.
Também não é preciso buscar na Conferência Climática os movimentos dessa profunda transformação no consumo energético. Temos aqui mesmo uma realidade cada vez mais próxima de nós brasileiros. Basta dar um pulo em alguns Estados Nordestinos para presenciar uma verdadeira revolução.
Complexo Eólico São Miguel do Gostoso
Recentemente este colunista pode conferir in loco na cidade de São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, um exemplo do que vem acontecendo com cada vez maior frequência. Foi a inauguração de um parque eólico com potencial energético para produzir 108 MW. O projeto foi desenvolvido pela francesa Voltalia em parceria com a Copel, empresa de energia do Paraná. São ao todo 36 aerogeradores instalados em torres de 120 metros de altura. O investimento foi da ordem de R$ 500 milhões.
Não foi à toa que os franceses e os paranaenses decidiram instalar esse parque no Rio Grande do Norte. Os ventos ali são excelentes para a geração de energia o que faz do estado, o maior produtor de energia eólica do Brasil. Ali já são gerados 1.227 MW (megawatts) em média em 2017 o que representa um aumento de 25,6% em relação ao ano passado.
A Voltalia tem negócios em 16 países e no Brasil está presente desde 2006 com cinco complexos eólicos todos eles localizados no Nordeste.
“Dez anos atrás começamos a ver terras para montar o parque e na época pouco se falava no potencial eólico do Brasil”, contou o diretor-geral da Voltalia no Brasil, Robert Klein. E não será de estranhar se a empresa decidir por novos projetos na região já que existe o potencial e a necessidade, o que no ditado popular é traduzido como: “a fome com a vontade de comer”.
Principal fonte energética do Nordeste brasileiro
Em recente matéria publicada pelo jornal Correio Braziliense, de autoria da repórter Simone Kafruni, desde abril deste ano a força eólica no Nordeste se fez presente como nunca. Segundo dados levantados pela jornalista junto ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a geração de energia a partir dos ventos tem sido a principal fonte de abastecimento elétrico da região quebrando recordes sucessivos.
Em outubro, ela chegou a superar sozinha todas as outras fontes somadas com 52,6% do total na região Nordeste. A evolução constante nos índices de produção somada à dramática redução nos níveis dos reservatórios que abastecem as usinas hidrelétricas foram as principais razões para se alcançar esse resultado.
Ainda segundo a reportagem, em uma década a geração eólica cresceu vertiginosos 1.772%, passando de 935,4MW para 12.966MW.
A paisagem do Nordeste tem se alterado com esses imensos cataventos que, no meu entender, contribuem para dar um toque especial ao já belíssimo litoral da região. De certa maneira eles também contribuem para quebrar paradigmas quanto ao que representam essas não tão novas formas de gerar energia e apontar os caminhos para um futuro que já chegou.
Ao lado da Solar, outra fonte limpa, renovável e abundante em nosso país (também em crescimento constante, mas ainda à espera de seus dias de glória), teremos um novo momento e uma nova realidade sem a necessidade de queimarmos combustíveis fósseis e destruir o meio ambiente para a construção de novas usinas hidrelétricas na Amazônia.
Pessimismos à parte é possível acreditar em caminhos mais promissores!